Quem sou eu

Minha foto
Atrás sempre de um ponto de equilibrio e do desenvolvimente responsavel

16.10.11

OS PROTESTOS DA MIDIA


Ontem eu estava assistindo a abertura do PAN 2011, em Guadalajara, vocês sabiam que está rolando o PAN de 2011?  Não?  Voces estão vendo a Globo demais gente!  O PAN está sendo exibido pela Record, que não é santa, nós sabemos, mas, que vergonha a Globo não dar cobertura alguma ao PAN 2011.

Essa mesma Globo (e suas coligadas) tem feito literalmente convocações para os protestos contra a corrupção, felizmente com resultados ridículos.

Para a turma que está organizando estes protestos, o povo brasileiro não protesta, não chia, não participa.  Mentira.  É só ver os protestos contra os maus serviços públicos (como os trens e hospitais) e marchas como no caso dos Bombeiros, que a própria Globo tratou no inicio de “queimar”, sem sucesso, sendo um de seus mais recentes fracassos políticos.  O mesmo fez contra os professores em greve em MG (110 dias, não sabiam?).

Vamos lembrar que a Globo fez o possível para não noticiar a campanha das Diretas Já, nos anos 80, apesar das multidões que lotavam avenidas e praças, muito, mas muito maiores que essa que ela tem conseguido juntar.  Porém, mais tarde, ela explorou a indignação popular contra Collor, que ela colocou no poder, incitando os jovens nas marchas conhecidas como “dos caras-pintadas”.

Para a Globo só valem aqueles movimentos que ela ajuda ou organiza nos bastidores, ou que atacam aqueles que ela gostaria de atacar.  É curioso como, depois de feita a passeata, os organizadores somem dos facebooks da vida, deixando os simpatizantes na mão.

Quem anda muito tiririca com isso são os partidos de esquerda, que sempre se acharam donos da verdade e que sempre foram os mobilizadores populares contra o sistema.  Acontece que, de fato, vários grupos, como a UNE, estão cooptados pelo PT e por outros partidos.  O impedimento que os grupos de protesto fazem contra a presença de bandeiras ou mesmo políticos nas marchas tem irritado estes partidos e lançado questões sobre o caráter fascistas destes protestos.

Sim, a História tem exemplos para contar sobre como os donos do poder manipularam sentimentos de indignação do povo contra os partidos políticos e a política, movimentos que começaram puros ou realmente manipulados, e descambaram para a onda fascista. 

A Globo há tempos vem se oferecendo para a população como um canal de manifestação, de cobrança, ela se faz de partido político, sem mandato e sem regras a cumprir, não temos como dar impeachment na Globo.  Ao oferecer espaço para o povão e para os especialistas (amigos) falarem, ela ganha credibilidade e adesão, fundamental para dois objetivos: continuar sendo o melhor canal de vendas (ninguém compra de mentiroso, mas de quem parece confiável), mesmo que a venda de coisas roubadas, lotes ilegais, carro ruim, propaganda enganosa, prostituição, etc.  Segundo motivo: como uma igreja, ela congrega em torno de si uma multidão de devotos e usa isso para pressionar os políticos e os governos.

Esse é talvez o objetivo básico hoje: após demolir a credibilidade dos partidos e grupos políticos, de forma generalizada, ela se apresenta como partido sem política, uma força que não exige de você o incômodo das eleições e do acompanhamento.  Assim o faz para pressionar os políticos que poderão em breve estar com as mãos no projeto de regulamentação dos meios de comunicação, para votá-lo, ou para enxotar ou destruir empresas rivais – como tentou fazer com a empresa portuguesa que comprou um jornal popular do Rio, ou as maquinações feitas contra a Band, o SBT e a Record.

Esse projeto de regulamentação pretende quebrar várias tretas e mutretas que hoje engordam as empresas de comunicação e as protegem sob o falso argumento da liberdade de expressão.  É com base na liberdade de expressão e de informação que essas empresas promovem seus realities shows, suas baixarias na TV e no rádio, sua censura prévia nas redações (vc só fica sabendo o que elas querem publicar) e até seus classificados.  O projeto quer quebrar a concentração de meios nas mãos de uma empresa só, péssimo para empresas como a Globo e a Abril (dona da Veja, outra metida com os protestos).

As marchas tiveram como provocação inicial uma matéria de um jornal espanhol, sem expressão alguma aqui, que indagou porque os brasileiros fazem marchas gays, evangélicas e da maconha e nenhuma contra a corrupção.  Usar uma provocação vinda de um jornal estrangeiro foi a forma encontrada para dar ares de espontânea e nacionalista a onda de protestos convocada.  Outra jogada é defender Dilma contra os políticos, porque é Dilma que tem poder de veto sobre o projeto de regulação da mídia, é Dilma que tem um índice de popularidade que a blinda contra golpismos da imprensa.  Defender Dilma é também uma forma de parecer defensor da ordem e da primeira mulher presidente.

Os meios de comunicação estão fazendo experiências psicológicas com a sociedade há tempos, já estão em estudos nos EUA programas para avaliar a atividade em redes sociais e descobrir estopins de greves e revoluções.   

Alguém pode pensar: “tudo bem, a Globo e a Abril têm todo o direito de mobilizar seus crentes, como faz a Record, para fazê-los defender planos e ambições” – talvez.  Os meios de comunicação estão aí para informar, não para mobilizar, a imprensa tem que informar e não ser golpista.  Se a Globo se acha melhor que a Record, não deveria agir como uma igreja ou um partido político.

Então, você é obviamente livre para seguir o “plim-plim”, ou o “ai Jesus”, ou a bandeira vermelha que você quiser.  Mas, pense bem, reflita.

13.10.11

Tá Tudo Perdido Mesmo

TÁ TUDO PERDIDO MESMO

O governo de MG porá os Dragões da Inconfidência e o tapete vermelho para receber Ivete Sangalo, futura Cidadã Honorária estadual. Os grupos de esquerda, que há tempos têm o comando da capacidade de protesto e de greve dos trabalhadores, estão chiando, pois o governo estadual dedica aos cidadãos indignados o cassetete e o gás lacrimogênio.

Luciano Hulk e Gugu Liberato continuam semanalmente organizando premiações benfeitoras a famílias escolhidas sabe-se lá como, exibindo-se como benfeitores e dignos de...Voto? Talvez não, eles querem é mostrar que o preço que cobram pelo espaço publicitário é justo, é caro mas é justo.

No dia 20 a mídia noticiou as passeatas em 12 estados, é o protesto “contra a corrupção”, o que seria muito bom não fosse o fato evidente de que são movimentos animados pela grande mídia (preocupada com os projetos de regulação das comunicações), por agitadores oposicionistas disfarçados e por pessoas que se consideram muito lucidas, mas que não enxergam que o povo tem sim protestado – vide as reações aos arrochos injustos contra servidores públicos e outras categorias, as reações contra os serviços ruins de trens, metrô, barcas, aos abusos policiais, etc – isso a dita mídia amiga não mostra.

As esquerdas, que se consideram donas da verdade e do espirito reformista, acusam os protestantes de serem manipulados, quando elas mesmas manipulam o povo – é só ver o silencio da UNE e dos sindicatos e conselhos profissionais contra as farras nos governos de esquerda. As esquerdas denunciam que o discurso moralista dos protestantes é a repetição da historia do golpe de 64, mas, fato é que a corrupção não pertence a este ou a aquele partido, ela não nasce em Brasilia ou no meio empresarial apenas.

Mais uma vez estamos vendo um justo sentimento sendo manipulado, usado, para fins políticos, os mesmos fins políticos que têm criado e alimentado a corrupção que denunciamos.

Mais uma vez as pessoas se negam a conhecer a História e a mergulhar no duro trabalho de conhecer os problemas e debater soluções, preferindo seguir receitas dadas por quem tem interesse em faturar com essa indignação, em direcioná-la. Não demorará muito e pedirão as tropas nas ruas contra os corruptos, pedirão a administração militar e falso moralista.

O povo, este que estará em Belo Horizonte emocionado com a premiação de Ivete, ou que sintoniza a TV para ver Hulk, Edir Macedo, Malafaya, Gugu, Datena, Hebe, futebol, filme enlatado e novela, é tão alienado quanto os que hoje protestam contra a corrupção, seus atos de protesto são explosões cegas, ou animadas pelos de esquerda, ou de direita. Muitos já viram isso, há séculos, daí o conformismo do bom escravo, que prefere roubar do patrão na calada da noite a apontar-lhe suas perversões e maldades. Triste realidade de um povo: ou se entorpece para fugir da dor, ou se esconde no trabalho desanimado, ou deixa manipular-se em sua revolta por quem simplesmente quer o trono do rei.

 
 

29.9.11

Por Que o Poder Publico é Ruim?

POR QUE O PODER PUBLICO É RUIM?

Por que a saúde e a segurança estão tão ruins?  Por que a justiça não anda?  Por que os transportes são uma vergonha?  Por que ninguém consegue resolver as enchentes?  As epidemias de dengue?  Por que, enfim, o que é público, governamental, funciona tão mal?  Você sabe?  Ou pensa que sabe?

O Poder Publico é formado por empresas publicas, prefeituras, tribunais, parlamentos (de vereadores, deputados e senadores), governos estaduais, governo federal, forças armadas, etc.  São organizações como quaisquer outras: reúnem pessoas, dinheiro e outros recursos para realizar objetivos.

Porém, se as organizações privadas têm como objetivo o lucro e o ganho de seus donos, o objetivo do Poder Público é o de gerar benefícios para a sociedade, atender aos interesses de todos – homens, mulheres, idosos, crianças, ricos, pobres, etc – enfim, da sociedade.

Sociedade é o grupo de pessoas com objetivos comuns e que trabalham juntas para atingi-los.

Sim, claro, cada um tem seus interesses, mas, existem alguns interesses que são comuns, como a prevenção de epidemias, o socorro de emergência, a justiça, a segurança nas ruas, os serviços de comunicação e informação, a educação básica e a conservação de estradas, aeroportos, etc.

A sociedade sustenta as empresas e órgãos públicos com os impostos e taxas, e também com pessoal, porque os funcionários públicos não vêm de outro planeta, ou de outro país, eles são cidadãos como você, e como você eles podem ser honestos ou sem vergonhas, idealistas ou oportunistas.

Porém, ao contrário das empresas particulares, que se não forem eficientes e bem administradas quebram, o Poder Público pode criar impostos, taxas e loterias para cobrir os rombos que surgem da má administração.

Da mesma sociedade saem os candidatos para serem votados nas eleições, e ela mesma que vota, que escolhe, quais deles receberão o poder para administrar os órgãos públicos, ou fiscalizá-los.  É mais ou menos a mesma coisa que acontece num condomínio, numa associação, num clube, em algumas igrejas, etc.  Ora, o Serviço Publico é o espelho da sociedade.

Quando as pessoas deixam de lado os objetivos comuns e passam a trabalhar em favor de seus próprios interesses, muitas vezes por meio de trapaças e violências, elas deixam de compor uma sociedade, não passando de um ajuntamento de indivíduos, aqueles mais organizados formam os bandos.

E assim, o Poder Público deixa de ser o instrumento de vida e felicidade geral, passa a ser a galinha dos ovos de ouro, a teta da vaca gorda, o trem da alegria que todos cobiçam.  Ao colocar no comando do Poder Publico políticos sem vergonha, a sociedade lhes dá carta branca para agir dessa forma.

A sociedade só se importa um pouco com o que acontece dentro dos órgãos públicos quando o mal finalmente a morde – aí já era.

Os malfeitores eleitos têm como primeira missão corromper o funcionamento da máquina pública, já desrespeitada por uma sociedade que age como um ajuntamento.  Começam favorecendo os funcionários que aceitam ajudar, seja por idealismo ingênuo, seja por oportunismo picareta, seja por pura covardia.

Não há político corrupto, malfeitor, sem sua rede de colaboradores, de cabos eleitorais a funcionários públicos de carreira.

Montam assim uma teia de colaboradores, todos com a missão de viabilizar a safadeza: o uso eleitoreiro da máquina, o roubo, o gozo particular dos recursos públicos (ex. carro oficial para ir ao shopping) e o uso do poder para extorquir.

O Poder Publico acaba por fim sustentando partidos políticos, sindicatos, associações de todos os tipos, religiões e empresas privadas de vários tamanhos e tipos, além dos bandidos comuns.  É a ruína do serviço público em favor do ganho privado.

A ruína dos serviços públicos os prejudica?  De modo algum, é mais um motivo para usarem da maquina para criarem seus centros sociais, para darem esmolas, para criarem dificuldades e vender facilidades, etc – aparecem assim como benfeitores do povo e parceiros de empresários.

E, quando as coisas beiram o caos, o discurso é sempre o mesmo: a culpa é dos funcionários públicos!  Todos os beneficiários com esses esquemas infames (incluindo a imprensa) fazem o coro de condenação.  A saída é privatizar, administrar o Poder Público como empresa privada, dando fim aos tais privilégios – que surgiram justamente para proteger os bons funcionários em sua luta pelo interesse publico contra esses malfeitores todos.

Parabéns povo brasileiro.

11.9.11

EPITÁFIO PARA OUTRO 11 DE SETEMBRO

ARIEL DORFMAN - extraido da Folha de SP

Naquele 11 de setembro letal --lembro que era uma terça-feira--, acordei pela manhã com um som de angústia, a ameaça de aviões que sobrevoavam nossa casa. E quando, uma hora mais tarde, vi uma nuvem de fumaça que subia do centro da cidade, eu soube que minha vida e a vida de meu país tinham mudado de forma drástica e taxativa, para sempre.

O ano era 1973, o país era o Chile e as forças armadas acabavam de bombardear o palácio presidencial em Santiago, deixando claro desde o início a ferocidade com que responderiam a qualquer tentativa de resistir ao golpe contra o governo democrático de Salvador Allende. Esse dia, que começou com a morte de Allende, terminou convertendo em matadouro a terra onde tínhamos tentado uma revolução pacífica. Quase duas décadas, que vivi principalmente no exílio, se passariam antes que pudéssemos derrotar a ditadura e recuperar nossa liberdade.

Vinte e oito anos depois daquele dia inexorável de 1973 aconteceu um novo 11 de setembro, também numa manhã de terça-feira, e agora foi a vez de outros aviões, foi outra cidade que também era minha a que recebeu um ataque; foi um terror diferente que desceu do ar, mas de novo meu coração se encheu de angústia, de novo confirmei que nunca mais nada seria igual, nem para mim, nem para o mundo. Desta vez o desastre não afetaria a história de um país apenas, nem seria apenas um povo que sofreria as consequências do ódio e da fúria --seria o planeta inteiro.

Me causou sobressalto, nos últimos dez anos, essa justaposição de datas. É possível que minha obsessão por procurar um sentido oculto por trás dessa coincidência se deva ao fato de que eu era residente de ambos os países no momento em que sofreram a dupla investida, a circunstância adicional de que essas duas cidades agredidas constituem os fundamentos gêmeos de minha identidade híbrida. Porque cresci aprendendo o inglês em Nova York, ainda criança, e passei minha adolescência e juventude apaixonando-me pelo espanhol em Santiago, porque pertenço tanto à América do Norte quanto à do Sul, não posso deixar de sentir de forma pessoal a paralela destruição dessas vidas inocentes, e tenho a esperança que da dor e da confusão ardentes nasçam algumas lições, quiçá alguma aprendizagem.

De fato, Chile e Estados Unidos oferecem modelos contrastantes de como se pode reagir diante de um trauma coletivo.

Uma nação submetida a uma adversidade tão brutal inevitavelmente se vê diante de uma série de perguntas básicas que interrogam seus valores essenciais, sua necessidade de obter justiça para os mortos e reparação para os vivos sem fraturar ainda mais um mundo já perturbado. É possível restaurar o equilíbrio desse mundo sem nos entregarmos à compreensível sede de vingança? Não corremos o risco de ficarmos parecidos com nossos inimigos, de nos convertermos em sua sombra perversa --será que não corremos o risco de terminar governados por nossa raiva, que costuma ser tão má conselheira?
Se o 11 de setembro de 2001 pode ser entendido, então, como uma prova em que se avalia a sabedoria de um povo, me parece que os Estados Unidos, infelizmente, se saiu mal no exame. O medo gerado por um grupo pequeno de terroristas conduziu a uma série de ações devastadoras que excederam em muito o dano causado pelo estrago original: duas guerras desnecessárias; um colossal desperdício de recursos destinados ao extermínio, mas que poderiam ter sido investidos para salvar nosso planeta de uma hecatombe ecológica e nossos filhos da ignorância; centenas de milhares de pessoas mortas e mutiladas, e milhões de outras deslocadas; uma erosão dos direitos civis e o uso da tortura pelos norte-americanos, o que avalizou outros regimes para que abusassem ainda mais de suas populações cativas. E, finalmente, o fortalecimento em todo o mundo de um Estado de Segurança Nacional que exige e propaga uma cultura de espionagem, mendacidade e medo.

O povo chileno também poderia ter respondido à violência com mais violência. Sobravam razões que justificavam levantar-se em armas contra o déspota que traiu e derrubou um presidente legítimo. Não obstante, os chilenos democráticos e os líderes da resistência --com algumas exceções lamentáveis-- decidiram desalojar o general Pinochet do poder mediante uma não-violência ativa, recuperando, parte por parte, uma organização atrás de outra, o país que nos haviam roubado, até derrotar o tirano em um plebiscito que ele tinha tudo para ganhar. O resultado não foi perfeito. Mas, apesar de, décadas mais tarde, a ditadura derrotada continuar a contaminar a sociedade chilena, a forma em que travamos nossa batalha continua a ser um exemplo definitivo de como é possível criar uma paz duradoura depois de tantas perdas, tanto sofrimento persistente. O Chile demonstrou uma determinação cuidadosa e ajuizada para assegurar que nunca haverá outro 11 de setembro de morte e destruição.

Me parece maravilhoso e até mágico que, quando os chilenos tomaram a decisão de lutar contra a malevolência por meios pacíficos, estavam, sem saber disso, fazendo eco a outro 11 de setembro. De fato, nesse exato dia em 1906, Mohandas Gandhi, no Empire Theatre de Johanesburgo, convenceu milhares de seus compatriotas indianos a usar a não violência para contestar um conjunto de leis discriminatórias que, concretamente, já preparavam o futuro regime do apartheid na África do Sul. Essa estratégia incipiente de "satyagraha" levaria, com os anos, à independência da Índia e a muitos outros movimentos para conseguir paz e justiça no mundo, incluindo a luta de Martin Luther King pela igualdade racial e contra a exploração.

Cento e cinco anos depois daquela memorável exigência do Mahatma para imaginar uma maneira de sair do delírio e da armadilha da cólera, 38 anos depois de aqueles aviões me despertarem pela manhã para me avisar que eu nunca mais poderia escapar do terror, dez anos depois de a Nova York de minha infância ter sido dizimada pelo fogo, tenho a esperança de que o epitáfio final para cada um e todos os possíveis 11 de setembros seja dado pelas palavras suaves e imortais de Gandhi: "A violência vai prevalecer contra a violência apenas quando alguém puder provar que o modo de acabar com a escuridão é com mais escuridão".

O último livro de Ariel Dorfman é "Entre Sueños y Traidores: un Striptease del Exilio".

7.9.11

Acorda Cara-Pintada!

Acorda cara-pintada, que estão te manipulando e são eles de novo.  A corrupção está na tua cara, mas a pintura que usas só deixa ver aquela corrupção que eles querem que você veja, para puxar você pra rua e te usar como peão, arma de pressão política.

Você vive dizendo que eles não te enganam mais, que o povo não é bobo, etc, etc, mas, basta botar olhos e ouvidos nos mantras e imagens que eles lançam no ar, no papel, e lá está você de novo às ordens.  Pare com isso cara-pintada!

Vou te contar um segredo nada novo: a razão de eles estarem de novo tirando as pessoas de casa, da inércia, para a rua, está nos bastidores que você não buscou conhecer, nas entrelinhas que você sempre se nega a ler, mas que são razões publicas, para quem quiser ver.

Há uma grande discussão no governo envolvendo novas regras para telecomunicações, discussão essa que visa acabar com décadas de abusos econômicos e usos políticos sujos, todos impunes, e que tenta também abrir o mercado para mais empresas, sabe lá no que isso irá resultar.  É coisa de dezenas de bilhões de reais mensais em jogo, é o controle da formação da opinião publica, que é muito mais que formação de voto, é orientação de consumo, de negócios.  Acorda cara-pintada, a mira foi posta sobre Brasilia, porque é lá a discussão.

Mas, você me dirá como quem descobre uma falha: “mas isso é muita mesquinharia, é outra teoria da conspiração” – e eu te replicarei: como a da pacificação dos morros no Rio, balela que agora vai sendo desmascarada, não é?  Pois bem cara-pintada, é isso mesmo, é mesquinharia mesmo, porque eles com seus bilhões garantidos podem viver aonde quiserem, podem fazer o que quiserem, como ou sem corrupção generalizada e destrutiva - você que se dane!  Você acha que eles pensam no Brasil, como patriotas?  E você, pensa?  O Brasil é um grande mercado.

É como se no Rio de Janeiro (onde não ocorre uma grande operação da PF sequer), ou em São Paulo, em Minas, ou no Ceará, ou no Rio Grande, não houvesse coisa sinistra.  É como se nos municípios estivesse tudo bem.  Esses caras que te levaram pra rua nos anos 90, porque o filhote os traiu, no Fora Collor, agora querem te usar de novo, para lá nas quatro paredes dizerem ao governo que têm o povo e que o governo tem que comer na mão, se não...

A corrupção de Brasília existe porque existe uma trama, como raízes da floresta, a nivel estadual e municipal, nas empresas e entidades sem fins lucrativos, como os clubes, as igrejas, as ONGs, os conselhos profissionais, nas entidades estudantis como a UNE, e nas sociedades secretas.  Cortar cabeças em Brasilia?  Essa árvore do mal fará brotar outras e você não sentirá a seiva maldita passar por baixo dos teus pés, para alimentar os que entrarão no lugar dos decepados.

Olhe pra você mesmo e avalie o quanto contribui para o mal, pois ele está em cada um de nós.  Se de nós não vier a solução, de onde ela virá?  Ah, mas eles não querem que você pense nisso, deixe a solução com eles, certamente, já possuem os caras certos sentadinhos esperando a vez.  Você só precisa esquentar o clima, fazer o clamor e abalar as estruturas, o resto deixa com eles... E depois senta mais 10 anos e chora. 

26.8.11

Espanhois apoiam Dilma

O movimento da Globo e demais midias do país, de "combate a corrupção e apoio a faxina de Dilma", vem recebendo espaço lá fora, por meio do jornal El País, que chegou mesmo a dizer que a midia brasileira age como paladina contra a corrupção.  El País é um jornal espanhol, do tipo do Globo, logo, envolvido até o talo com o grande capital daquele país - por favor, não estou fazendo discurso vermelho.

Manter Dilma no comando do "gigante" é crucial para o retorno dos investimentos estrangeiros no Brasil - a ordem a qualquer custo, ordem amiga do dinheiro dos grandes investidores, que resultam de qualquer modo em empregos e receitas, mas com custos sociais e ambientais, fora os politicos, incalculáveis também.

E o investimento espanhol?  Leia isto:

"Desde que em 1995 se produziu a explosão do processo privatizador brasileiro as grandes companhias espanholas começaram a tomar posições no país e como consequência disto, Espanha foi o primeiro investidor estrangeiro no Brasil em 1998, com 22% do volume total de investimentos e no ano 2000, com um montante de US$6 bi e quase 29% do total dos Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil. Com as incertezas das eleições de 2002 o volume de investimento espanhol no país se reduziu drásticamente. Nos anos 2003, 2004 e 2005 o IED espanhol no Brasil foi de US$ 710 mi, US$ 1,05 bi e US$ 1,22 bi respectivamente. En 2006, o IED espanhol no Brasil foi de US$ 1,5 bi, 6,8% do total, atrás somente dos Estados Unidos e dos Países Baixos. O estoque de IED acumulado da Espanha no Brasil é de US$ 35 bilhões, o segundo volume acumulado depois somente do Estados Unidos."

Fazem parte do rol de empresas várias com uma montanha de queixas de consumidores brasileiros, agora chamados a apoiar Dilma: a CEG (RJ) e a Telefonica (SP), fora outras, como a que gerencia hoje rodovias.


É importante então ligar a adesão e o elogio rasgado de El País, jornal similar ao O Globo, Estadão e Folha, ao movimento de combate a corrupção, a importancia do capital de grandes empresas espanholas no Brasil.




25.8.11

Um Segredo Bem Guardado

A prisão esta semana de Sarney pai e Sarney filha, mais outras 15 pessoas, numa localidade do interior do país revelou um grande segredo até então bem guardado.

Não foi a PF que fez as prisões, mas a guarda municipal desta localidade, por ordem de um juiz desconhecido, que estabeleceu fianças milionárias, ainda não pagas, para que os presos possam responder em liberdade, enquanto não se resolvem, permanecem presos em celas comuns, se bem que mais dignas que as do resto do país.

As autoridades da localidade, que tem como nome uma fria combinação de letras - "CB-01" - convocaram uma coletiva, diante das pressões dos vários orgãos de imprensa do país.  A localidade é um dos cinco mil e poucos municipios do país, mas possui uma realidade completamente diversa.

A beira de uma rodovia federal tipicamente interiorana, arruinada e não pavimentada, acessamos uma via pavimentada que fez chegar a um grande portal, parecido com estes de base militar.  Nos identificamos e tivemos de deixar o veiculo num estacionamento, sob a alegação de que em CB-01 só podem circular veiculos dirigidos pelos cidadãos da cidade, que possuem uma avaliação de habilitação diferente da do resto do Brasil.  Fazer o que...?

Tomamos um onibus que seguiu por uma avenida arborizada, vendo ao longe industrias cujos prédios e ambiente externo são caprichados em termos estéticos, nem de longe se assemelhando a uma zona industrial.  Entramos na cidade e uma coisa que nos impressionou de imediato foi o numero de jovens bem afeiçoados e uniformizados trabalhando na conservação de jardins, árvores, calçadas, pistas, no apoio ao transito, etc, não parecendo ser jovens de classes mais baixas, como nas nossas cidades.  Notamos também a forte presença de bicicletas, patins, além de coletivos eletricos, quase não se vendo veiculos de passeio.  Era uma terça-feira, horáro comercial, e durante todo o nosso trajeto não vimos camelôs, botequins, mendigos e jovens vadiando.  Havia uma limpeza visual no ambiente, as margens dos rios eram parques e vimos inclusive araras nas árvores.  Não vimos lixo nas ruas, mas, antes de entrarmos na cidade, vimos um imenso centro de reaproveitamento de residuos.

Fomos escoltados por guardas do municipio, que nos encaminharam diretamente ao centro de imprensa da administração.  Lá, o porta-voz repetiu o release distribuido e abriu tempo para perguntas.  A despeito da importancia do fato da prisão, perguntei a ele do porquê de um lugar como aquele permanecer ignorado.

- estamos construindo um novo país, temos aqui pessoas que querem construir um carro novo e melhor, em vez de ficar tentando consertar um velho.  Não nos preocupamos em aparecer ou ter espaço em vossa midia, temos a nossa e por meio dela provocamos reflexões e fortalecimento do caráter, e de nenhum modo deixamos de ter uma sociedade ordeira e um mercado forte.  Somos a oportunidade dos que querem fazer a sua vida, mas pensando grande, pensando socialmente.

- mas, e agora com a prisão dessa turma?

- estamos fazendo a nossa parte, se pudessemos, dariamos o nosso jeito, mas estamos dentro do Brasil, ainda não somos o Brasil, logo, temos de seguir certos procedimentos. 

- não temem represálias?

- sim, aliás, estamos sempre prontos para represálias do Brasil, porque sabemos que mexer contra a corrupção e a malandragem é mexer com os brios dos brasileiros.

- falas como se não fosses brasileiro.

- Sr., se conhecesse nossa realidade, nossos modos, concluiria que não somos de fato brasileiros, estamos aqui, mas somos um povo novo em formação.  Não perdemos nosso tempo tentando consertar o Brasil, estamos aqui consertando nossa vida e expandindo isso.

- agora voces ficarão conhecidos, como pretendem lidar com isso?

- vamos continuar nossa vida, somos um povo, digno do termo, não nos deixaremos ser perturbados por um bando, um amontoado.  Aqueles que quiserem se aproximar ou mesmo aderir, venham com a certeza de que aqui as leis são aplicadas e que temos nossos costumes.

- vejo que há bastante estrangeiros aqui...

- sim, temos pessoas de várias partes do mundo, mas, a maioria é de brasileiros e vizinhos, temos uma bela mistura de raças, o gosto pelo cultivo da saude fisica e mental e uma certa dose de maturidade para lidar com as apreensões do espirito.

- a praça central não tem igreja alguma.

- porque Deus está por todo lugar e em todos nós, lidar com isso é um de nossos segredos.

- os jovens são obrigados aos trabalhos forçados?

-  não se trata de trabalhos forçados, mas de serviço civil obrigatorio, o nosso sistema de ensino ensina para a vida.  Temos uma policia de costumes e uma policia criminal.  Nenhum cidadão incapaz fica na rua.  Não temos favela, porque ninguem entra aqui quando bem quer, porque ninguem aqui é deixado na indignidade. 

- e por que voces mexeram com esse vespeiro?

- porque ele deu o azar de pousar aqui, avisamos pelo rádio do aeroporto, mas, ele achou que estava no Brasil.